Vamos falar sobre a nossa fala Capacitista?
redigido pela CaL Profª. Bianca Spode Beltrame
Capacitismo é qualquer tipo de atitude que discrimine ou denote preconceito contra pessoas com deficiência (PcD) tendo por base a sua capacidade corporal e/ou cognitiva. É a antiga ideia de que pessoas com deficiência são inferiores, anormais, ou incapazes quando comparadas com um referencial definido como “perfeito”.
Embora não seja a nossa intenção, muitas vezes acabamos sendo capacitistas no dia a dia ao utilizarmos expressões que foram naturalizadas no nosso vocabulário. Vamos ver algumas delas e como podemos mudá-las?
Dizer que uma pessoa com deficiência é um(a) “coitado(a)”: pessoas com deficiência possuem inúmeras capacidades, elas precisam de incentivo, não que sintam dó ou pena delas.
Afirmar que todas as pessoas com deficiência são “um exemplo de superação”: deficiências não precisam ser superadas, precisam ser respeitadas. Dessa forma “Todas as pessoas com deficiência possuem a sua individualidade”.
Usar a expressão “fingir demência”; chamar alguém de ou se autodefinir como “retardado”: A deficiência intelectual (retardo mental e demência) é um transtorno neuropsiquiátrico que necessita de diagnóstico médico. Dessa forma, usar esses termos para insultar é outra forma de manifestar o preconceito com quem é PcD. Substitua “fingir demência” por “se fingir de desentendido”, e não ofenda ninguém.
Falar “deu uma de João-sem-braço”: outro exemplo de capacitismo na linguagem, colocando pessoas que não têm deficiência como melhores do que quem é PcD. Mudar a frase não é complicado, basta usar “preguiçoso” ou dizer que alguém “fugiu da responsabilidade”.
Perguntar “você está cego/surdo/mudo?”: as pessoas que têm deficiência auditiva, visual ou de fala não são inferiores e, portanto, não devem ter sua condição apontada como algo errado. Seria muito mais elegante trocar tais perguntas capacitistas por “você prestou atenção no que eu te disse?”, ou por “você poderia me responder o que te perguntei?”. Simples assim.
Usar a expressão: “Em terra de cego, quem tem um olho é rei”: um ditado popular extremamente capacitista. Poderia ser atualizado por “no meio da ignorância, quem sabe um pouco é rei”.
Dizer “Você só dá mancada!”: a pessoa que manca tem uma deficiência física, e é muito capacitista associá-la a pessoas que fazem algo errado. Um substituto seria “Você só faz besteiras!”.
Falar que é “autista por opção”: usar esse termo para definir um comportamento de ausência, distração e isolamento é capacitista, pois o autismo não é uma condição temporária, um estado de espírito ou uma escolha. Pessoas dentro do espectro autista enfrentam, em diferentes níveis, alterações na capacidade de comunicação, nas interações sociais e no comportamento – e devem ser vistos e respeitados em toda sua complexidade. Mude a expressão para “estou menos sociável” ou “ele está mais introspectivo”, por exemplo.
Dizer que um projeto não vai ser bem sucedido porque não tem “braço suficiente para tal coisa”: tem gente que usa a frase “não temos braço suficiente” ao se referir à ausência de funcionários para a realização de determinado projeto em equipe. A expressão também é preconceituosa e precisa ser revista, pois dá a entender que quem vive sob a condição de não ter um ou mais membros do corpo é incapaz de obter sucesso na vida. Vale trocá-la por “não temos um número de pessoas suficiente para isso” ou “não temos recursos para executar a tarefa”.
Seja no ambiente de trabalho ou na vida pessoal, o uso de expressões capacitistas pode causar danos irreversíveis na vida das PcD. Antes de qualquer classificação, somos PESSOAS, e possuímos o direito de ser quem somos, termos oportunidades, acesso, respeito e dignidade. Ser diferente não é um defeito. Precisamos aprender a nos colocar no lugar do outro.
Refletir a respeito e mudar a nossa forma de falar: simples ações como estas promovem grandes mudanças e ajudam a romper as barreiras da discriminação.
Sobre a autora:
CaL Profª. Bianca Spode Beltrame
Técnica em Assuntos Educacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
e Doutoranda em Administração no PPGA/UFRGS. Associada de Lions Club Internacional.
#PraTodosVerem #PraCegoVer #DescreveAí
Ilustração 1
Ilustração de diversas pessoas usando máscaras de proteção e trajando roupas de diferentes cores. Ao centro, dois cadeirantes seguram um pequeno cartaz bege com os dizeres “Nossa Fala Capacitista”e uma miniatura do logo do Lions Clube Cibernético Erceu Firmino Pinto Neto.
Ilustração 2
Uma tirinha ilustra a conversa entre o chefe de uma empresa e um rapaz cadeirante. O chefe afirma: “Bem-vindo a nossa empresa! Sua função será na guarita do estacionamento…”. O rapaz responde: “O senhor não entendeu! Tenho doutorado em economia!”.